Tribunal não tem força
policial própria e suas ordens precisam ser cumpridas pelas autoridades de
países signatários.
O procurador-geral da
Ucrânia, Andriy Kostin, afirmou ter recebido informações de inteligência sobre
a possibilidade do presidente russo, Vladimir Putin, comparecer à Cúpula de
Líderes do G20, a ser realizada no Rio de Janeiro em novembro deste ano, e
pediu que as autoridades brasileiras cumpram o mandado de prisão emitido pelo
Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o mandatário, informou a agência
Reuters.
Pouco mais de um ano após a
guerra na Ucrânia completar um ano, em março do ano passado, o TPI emitiu um
mandado de prisão contra Putin por crimes de guerra cometidos no território
ucraniano, citando a "deportação ilegal" de crianças ucranianas. Além
dele, também foi emitido um mandado de prisão contra sua comissária de Direitos
das Crianças, Maria Alekseyevna. Moscou nega violar os direitos humanos ou que
cometa crimes na Ucrânia.
— [Devido às] informações de
que Putin pode comparecer à cúpula do G20 no Brasil, gostaria de reiterar que é
uma obrigação das autoridades brasileiras, como Estado parte do Estatuto de
Roma, prendê-lo se ele ousar visitá-lo — disse Kostin em entrevista à Reuters,
referindo-se ao tratado que estabeleceu o TPI. — Espero sinceramente que o
Brasil o prenda, reafirmando seu status de democracia e Estado de direito.
Para o procurador-geral,
caso o Brasil não cumpra o mandado, corre o risco de abrir um precedente no
qual os líderes que são alvo de um mandado de prisão do tribunal podem viajar
por aí impunimente. Ao ser questionado se havia alguma decisão havia sido
tomada sobre a vinda de Putin ao Rio em novembro, Kostin afirmou aos repórteres
que "não", prometendo que "quando uma decisão for tomada, nós os
informaremos."
O Brasil enviou um convite
padrão a Putin para as reuniões do G20 que ocorrerão no dia 18 e 19 de
novembro, mas não recebeu nenhuma indicação de que o líder russo planeja
comparecer, segundo duas autoridades do governo ouvidas pela Reuters. Procurado
pela Reuters, o promotor do TPI não quis comentar.
O TPI tem competência para
investigar e julgar indivíduos acusados de crimes de guerra, contra a humanidade
e genocídio. Ao contrário da Corte Internacional de Justiça (CIJ), ele se volta
a pessoas físicas, não Estados e governos. Suas decisões, contudo, sofrem com
limitações relativas ao reconhecimento pela comunidade internacional. O TPI
porém não tem uma força policial própria para cumprir suas decisões, ou seja,
os mandados que forem emitidos precisam ser cumpridos por autoridades locais.
Em setembro do ano passado,
o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que Putin seria
convidado ao G20 e que poderá vir "facilmente", sem risco de ser
preso. Brasília é signatária do Estatuto de Roma desde 2000, com ratificação em
junho de 2002. Após pressão, o presidente recuou em sua declaração, afirmando
que "quem decide é a Justiça", não o governo. Lula também questionou
a participação do Brasil no tribunal enquanto outros países não são
signatários, como os EUA e a própria Rússia.
O mandado de prisão contra
Putin fez com que o presidente russo desistisse de comparecer à reunião dos
Brics na África do Sul, em agosto. Embora Putin tenha sido convidado, o mandado
de prisão, em teoria, obriga as autoridades do país africano, que é signatário
do Tribunal, a prendê-lo.
No início de setembro deste
ano, Putin viajou para a Mongólia, que também é signatária do Estatuto de Roma
desde o início do século. O país não cumpriu a ordem devido aos laços
estratégicos, econômicos e históricos, cultivados desde os tempos da União
Soviética — o próprio Kremlin afirmou que não tinha "qualquer
preocupação" com a viagem.
Fonte: O Globo.
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