Entre
2004 e 2014 a petroquímica doou quase R$ 3 milhões a dezenas de candidatos
alagoanos.
Enquanto
a Braskem realizava a extração de sal-gema no subsolo da região urbana de
Maceió, desestabilizando o solo de grande parte da cidade desde meados dos anos
1970, diversas campanhas de políticos alagoanos eram abastecidas com volumosas
quantias de dinheiro da empresa, por meio de doações oficiais. Isso é o que
revela um levantamento exclusivo da Agência Tatu, com base em dados do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). VEJA O GRÁFICO!
Entre 2004 e 2014, a petroquímica doou o total de R$ 2.994.693,26 às campanhas de 41 políticos alagoanos. No grupo dos beneficiados pelas doações da Braskem estão presentes dois senadores eleitos, os atuais prefeito de Maceió e vice-governador de Alagoas, diversos deputados federais e estaduais, além de quatro ex-governadores, dois ex-senadores e um ex-prefeito da capital.
O
atual ministro dos Transportes do Governo Federal e senador eleito por Alagoas,
Renan Filho (MDB), foi um dos favorecidos. O ex-governador de Alagoas recebeu o
total de R$ 320 mil da empresa para despesas de campanha em 2014. Renan Filho
foi eleito para o primeiro mandato como governador do Estado naquele ano.
Também
consta entre os beneficiados, o atual prefeito de Maceió, João Henrique Caldas
(PL), mais conhecido como JHC, que recebeu R$ 60 mil da Braskem em doações para
a sua campanha durante as eleições de 2014, quando concorreu e foi eleito ao
cargo de Deputado Federal.
Ex-governador,
ex-vice-prefeito de Maceió e atual vice-governador de Alagoas, Ronaldo Lessa
(PDT) foi o político com as maiores doações de campanha da Braskem no período
analisado: R$ 350 mil ao todo. A primeira doação ocorreu em 2006, quando Lessa
renunciou ao Governo para se candidatar ao Senado, recebendo R$ 50,5 mil. Em
2010 tenta novamente ser eleito ao governo do Estado e naquele ano recebe o
valor de R$ 200 mil para a sua campanha. Em 2014, quando concorreu ao cargo de
Deputado Federal, recebeu outros R$ 100 mil.
Outro
governador de Alagoas que recebeu doações da Braskem foi Teotônio Vilela Filho
(PSDB). Foram R$100 mil repassados para a campanha de 2006, quando o tucano foi
eleito para o seu primeiro mandato como governador do Estado.
O
ex-presidente da República, ex-governador de Alagoas, ex-prefeito de Maceió e
ex-senador, Fernando Collor de Mello também está na lista de favorecidos por
doações de campanha da petroquímica. Em 2014, quando se candidatou ao Senado,
recebeu a quantia de R$ 171.469,80.
Outros
beneficiados
O
atual senador alagoano Rodrigo Cunha (Podemos) foi mais um dos que se
beneficiaram com as doações de campanha da Braskem. Em 2014, sua campanha
recebeu da empresa R$60 mil em doações oficiais. Foi a primeira campanha
política do parlamentar, que foi o deputado estadual mais votado de Alagoas
naquele ano.
Já
Benedito de Lira (PP), senador por Alagoas entre 2011 e 2019, recebeu quase
R$300 mil da Braskem para financiar sua campanha nas eleições de 2014. Naquele
ano, o pai do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), disputou o
cargo de governador de Alagoas e perdeu para Renan Filho (MDB) no primeiro
turno.
Confira
cada valor recebido pelos então candidatos:
Histórico
de doações a políticos
A
Braskem é fundada em 2002, a partir da integração de diversas empresas do setor
controladas pela Odebrecht, atual Novonor, que segue sendo a controladora da
petroquímica.
Segundo
o levantamento, as doações da Braskem começaram a ser realizadas em Alagoas já
em 2004, apenas dois anos após a fundação da empresa. Naquele ano foram R$277
mil doados às campanhas políticas. Em 2014 o TSE registrou o maior valor da
série histórica, com R$1.897.193,26 em doações da empresa a campanhas políticas
no estado de Alagoas.
Proibição
das doações de empresas
Hoje
proibidas, as doações de empresas a campanhas políticas foram legalmente
permitidas até as eleições de 2014. A Reforma Eleitoral de 2015 vetou
definitivamente a prática, que já havia sido proibida pelo Supremo Tribunal
Federal, que entendeu serem inconstitucionais os dispositivos que autorizavam
esse tipo de doação de campanha.
A
cientista política Luciana Santana explica que os interesses políticos das
empresas criam expectativas para futuros benefícios.
“A
Braskem é uma empresa com intenções comerciais, assim como outras, e fazer
doações para candidatos acaba sendo uma moeda de barganha para pleitear
aprovações de projetos ou mesmo de emendas que possam favorecer a atividade
econômica. Então o interesse político está muito vinculado a retaliar qualquer
tipo de medida ou projeto que atrapalhe as atividades comerciais”, afirma
Luciana, doutora em Ciência Política.
Questionada
se o apoio da Braskem poderia ter interferido no atual cenário de afundamento
de solo de bairros de Maceió, a professora da Universidade Federal de Alagoas
(Ufal) aponta que isso é uma das hipóteses para a omissão de autoridades.
“O
fato de a empresa Braskem ter grande impacto econômico no estado, ser uma das
grandes empregadoras de mão de obra e ser grande financiadora de projetos, isso
de alguma maneira impacta sim a administração pública”, pontua. “A gente está
vendo o quanto essa negligência acarreta danos sociais, ambientais, políticos e
econômicos. A questão ética deveria sobrepor a qualquer tipo de financiamento
de candidaturas”, acrescenta a cientista.
Outro
cientista político, Ranulfo Paranhos lembra que apesar da proibição de doações
de empresas a campanhas políticas a partir de 2014, a relação do setor privado
com autoridades públicas continua.
“Os
parlamentares que receberam verba da Braskem ainda são os parlamentares que
hoje estão no poder. A relação oferta e demanda não desaparece em função da
lei, ela continua existindo. Tem um histórico que explica boa parte do que
aconteceu antes. É bom lembrar que interesse político e interesse privado
caminham juntos”, conclui.
O
que diz a Braskem
A
nossa reportagem entrou em contato com a assessoria da Braskem mas até a
publicação desta reportagem não obteve retorno sobre os nossos questionamentos.
O
que dizem os políticos
Renan
Filho (MDB) afirmou, por meio de sua assessoria, que não houve qualquer
contrapartida para o recebimento do dinheiro na campanha de 2014, quando o
ministro era candidato a governador em Alagoas.
“Há
dez anos, o financiamento empresarial era permitido a todos os partidos e
empresas que quisessem doar. Vale pontuar que os três candidatos mais bem
colocados nas pesquisas de intenção de votos ao governo do estado de Alagoas
naquelas eleições receberam doação de campanha da empresa. (...) O governo de
Alagoas nunca fez acordo algum com a Braskem”, disse a assessoria de Renan
Filho por meio de nota.
Já a
assessoria do senador Rodrigo Cunha (Podemos) informou que o parlamentar não
recebeu doações da Braskem. “Todas as doações recebidas por campanhas do
parlamentar obedecem e obedeceram integralmente a legislação vigente e foram
recebidas de modo 100% transparente, com prestação de contas à Justiça
Eleitoral e publicadas no site do TSE para consulta pública. Na verdade, a
Braskem doou recursos no passado a partidos políticos, entre eles o PSDB,
agremiação da qual Cunha era filiado", afirmou a assessoria por meio de
nota.
Por
ligação, o deputado estadual por Alagoas, Ronaldo Medeiros (PT), afirmou que
não recebeu o valor diretamente, mas através do partido que fazia parte, que
era o MDB, na época. “Antigamente, as campanhas tinham financiamento privado. E
não doaram para mim, doaram para o partido. (...) Eu não tive contato direto
com a empresa, eu não fui pedir lá, entendeu? Isso é contribuição que o partido
fazia. Eles devem ter doado um valor grande para o MDB, creio eu, e o MDB
dividiu com os candidatos de 2014. Eu nem sabia disso aí, eu fui ver agora
porque eu liguei para o contador”, disse.
O
deputado federal por Alagoas, Paulão (PT), também respondeu à reportagem por
ligação, ocasião em que explicou: “hoje, o financiamento é público, portanto é
proibido financiamento privado, na época podia ser privado, não existia
financiamento público. Esse recurso eu recebi, por isso que foi declarado. Eu
não recebo dinheiro por fora. E naquele momento a Braskem dava ajuda a todos os
candidatos, independente do espectro ideológico, esquerda e direita”, afirmou.
A
assessoria do atual prefeito do município de Palmeira dos Índios, Júlio César
(MDB), informou que “todas as doações de campanha eleitoral, referente ao
período eleitoral de 2014, ocorreram na forma da legislação que era aplicada
àquele pleito eleitoral. Inclusive, o TRE/AL não atestou nenhuma
irregularidade, sendo as contas todas aprovadas. Não existe acordo. O partido
mostra um Plano de Governo para a eleição de governador. As doações acontecem
com quem aprova este plano”.
A
reportagem buscou entrar em contato com todos os políticos citados na
reportagem e com a maior parte dos 41 ex-candidatos que constam como
beneficiários da Braskem em doações de campanha na listagem do TSE, mas até o
momento apenas alguns citados responderam os questionamentos no momento da
publicação desta reportagem.
A
Agência Tatu reitera que tentou contatar todas as pessoas citadas e que
disponibiliza um canal aberto, por meio do e-mail ola@agenciatatu.com.br, para
os citados que desejem relatar sua versão dos fatos.
Fonte: Agência Tatu.
3 Comentários
Td com rabo preso e o povo que se dane, esse estado nao tem politico que peste
ResponderEliminarTá aí a prova porque nada foi feito esses políticos só querem enche o bolso e o povo que ser lasque
ResponderEliminarPor isso que os moradores dos bairros foram proibidos de fazer protestos pela injustiça alagoana
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