Reportagem
do jornal 'Estado de S. Paulo' relata que 1.339 pedidos de informação enviados
ao governo foram negados sob alegação de proteção de dados pessoais. Lula
assumiu o mandato com críticas a sigilos impostos por Jair Bolsonaro.
O
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva impôs em 2023 sigilos de 100
anos a informações que vão desde a agenda da primeira-dama, Janja da Silva, a
comunicações diplomáticas sobre o ex-jogador Robinho, condenado e preso por
estupro. A informação foi publicada em reportagem do jornal "O Estado de
S. Paulo".
De
acordo com a reportagem, o governo negou no ano passado 1.339 pedidos de
informação feitos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). A justificativa
dada pelo governo foi de que as informações continham dados pessoais,
protegidas por lei. Ao dar essa resposta, o efeito prático é colocar sigilo de
100 anos sobre as informações.
Outro
pedido negado, além dos relativos à agenda de Janja e comunicações sobre
Robinho, foi sobre a lista dos militares do Batalhão de Guarda Presidencial que
estavam trabalhando no dia dos ataques golpistas na Praça dos Três Poderes, em
8 de janeiro de 2023.
Ao
assumir, em janeiro de 2023, o governo Lula afirmou que não seguiria a prática
do governo de seu antecessor, Jair Bolsonaro, de impor sigilos centenários a
informações. Bolsonaro pôs sob sigilo, por exemplo, o seu cartão de vacinação.
A
Controladoria-Geral da União, que em 2023 derrubou sigilos do governo
Bolsonaro, divulgou nota sobre a recusa do governo Lula em prestar informações.
Segundo
a CGU, as negativas ocorrem em casos em que a divulgação demandaria trabalho
adicional, para preservar dados pessoais. Um exemplo desse trabalho adicional é
colocar uma tarja nos dados sensíveis.
A
CGU afirmou também que, após um pedido de informação ser negado, existem ainda
quatro instâncias administrativas que podem reverter a posição.
"Importante
ressalvar que a decisão do governo sobre abertura de dados ou não pode tramitar
por até quatro instâncias. A CGU recebe os recursos em terceira instância e há
ainda a possibilidade de decisão final da Comissão Mista de Reavaliação de
Informações (CMRI). Afirmar que uma posição sobre o acesso a uma informação é
uma posição oficial do governo só é possível quando essas instâncias estão
esgotadas", disse a CGU na nota (veja a íntegra mais abaixo).
Ainda
de acordo com o "Estadão", a gestão Lula impediu acesso à
praticamente o mesmo número de pedidos negados por Bolsonaro em 2022. Em 2023,
foram 1.339. Em 2022, 1.332.
A
CGU contestou essa comparação.
"O
governo Lula, em seu compromisso com a transparência, tem se esforçado para
facilitar esse tratamento e a disponibilização de informações. Por isso, a CGU
está desenvolvendo uma ferramenta de inteligência artificial que será
distribuída a todos os órgãos aplicadores da LAI e que possibilita o tarjamento
automático das informações pessoais que devam ser protegidas nos documentos,
eliminando a possibilidade de que se alegue proteção a dados pessoais como
motivo para tarjar integralmente documentos", afirmou.
Veja
a íntegra da nota da CGU:
Em
reportagem publicada nesta quinta-feira (21.03), o Estadão afirma que o governo
Lula repete prática de Bolsonaro na imposição de sigilos de cem anos a
informações oficiais. O jornal, erroneamente e sem se aprofundar nos casos,
assume que as decisões do governo impedem o acesso à informação quando, na
verdade, trata-se exatamente do contrário. A reportagem traz como sigilosos
casos que já foram tornados públicos em grau de recurso pela
Controladoria-Geral da União (CGU).
O
processo de aposentadoria do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF),
Silvinei Vasquez, foi liberado em 15 de agosto de 2023 com o devido tarjamento
de dados pessoais. O caso mais emblemático é o do ex-ajudante de ordens de
Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. A ficha de Cid, além do seu histórico
completo de punições e sanções disciplinares, foram liberados em fevereiro de
2024. A CGU reverteu a negativa inicial e o exército já cumpriu a decisão. As
informações estão públicas.
Cabe
lembrar, inclusive, que foi um pedido de LAI que desencadeou, na atual gestão
federal, os fatos que levaram ao indiciamento do ex-presidente esta semana. A
partir do pedido de acesso ao cartão de vacina, revelou-se a fraude que levou à
delação de Mauro Cid.
Importante
ressalvar que a decisão do governo sobre abertura de dados ou não pode tramitar
por até quatro instâncias. A CGU recebe os recursos em terceira instância e há
ainda a possibilidade de decisão final da Comissão Mista de Reavaliação de
Informações (CMRI). Afirmar que uma posição sobre o acesso a uma informação é
uma posição oficial do governo só é possível quando essas instâncias estão
esgotadas.
Fora
isso, vincular o número de 1.339 negativas por dados pessoais em 2023 com
sigilo de cem anos está errado. As negativas são, preponderantemente, casos em
que o tratamento das informações pessoais envolveria a necessidade de trabalho
adicional e excessivo para a disponibilização da informação. Além disso, a
reportagem omite que, em comparação a 2022, houve queda de 15,70% nas negativas
com base em informações pessoais no ano passado.
O
governo Lula, em seu compromisso com a transparência, tem se esforçado para
facilitar esse tratamento e a disponibilização de informações. Por isso, a CGU
está desenvolvendo uma ferramenta de inteligência artificial que será
distribuída a todos os órgãos aplicadores da LAI e que possibilita o tarjamento
automático das informações pessoais que devam ser protegidas nos documentos,
eliminando a possibilidade de que se alegue proteção a dados pessoais como
motivo para tarjar integralmente documentos.
Fonte:
G1.
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