Em Jaramataia, obra do Dnocs
apresenta danos estruturais e não possui plano de segurança; população do
entorno pode ser afetada em caso de desastre.
A Fiscalização Preventiva
Integrada (FPI) do Rio São Francisco inspecionou mais uma barragem construída
pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) em Alagoas, na
tarde da última terça-feira (30). No açude Jaramataia foi constatado o abandono
e a falta de manutenção da barragem que apresenta sérios riscos à população do
entorno.
Distante 42 Km de Arapiraca,
sede da 13ª etapa da FPI em Alagoas, o barramento de Jaramataia sobre o riacho
Sertão, afluente do rio Traipu, que segue para o Rio São Francisco, forma um
açude que garante água para todo o município, além de alimento especialmente
para uma colônia de pescadores tradicionais.
O barramento do açude, que
represa um grande volume de água (19 mil m³) de um lado e do outro mantém um
profundo vale tomado pela vegetação da caatinga e por animais silvestres,
apresenta evidências de danos severos à estrutura, principalmente em sua
extremidade superior, onde é possível ver através das plantas que invadem a
estrutura “à procura da água” que se encontra do outro lado.
A visita contou com a
presença de técnicos da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos de Alagoas (Semarh), do Instituto do Meio Ambiente (IMA) e do Crea,
além do Ministério Público Federal (MPF) que apura a situação de todas as
barragens construídas pelo Dnocs no estado de Alagoas.
O coordenador da equipe de
Segurança de Barragens da FPI, Luciano Lima, apontou os diversos danos
aparentes à estrutura, como erosões ocasionadas pelo trânsito de veículos,
desde carros até ônibus, e pela falta de drenagem. “É evidente que os danos à
barragem existem e podem ser ainda mais graves, pois a profundidade do vale e a
mata que tomou o barramento impedem uma avaliação melhor, mesmo com o uso de
drone e outras tecnologias disponíveis na Secretaria”.
O técnico da Semarh destacou
ainda que há anos vem buscando informações técnicas sobre a obra e providências
efetivas para que seja realizada a manutenção necessária no açude, mas ainda
não obteve resultados. “O Dnocs sequer apresentou o plano de segurança da
barragem e muitos outros documentos previstos em lei. A falta de recursos é a
principal alegação deles”, comentou Luciano Lima.
Toda a equipe demonstrou
preocupação com a situação do maior açude do estado, que claramente apresenta
rachaduras e deformações causados pela acomodação das rochas que formam o
paredão de contenção das águas, mas também pela erosão natural do alicerce da
estrutura, além da invasão da mata, a falta de manutenção e do possível
assoreamento do açude, que o torna imprestável em caso de seca severa, como as
que ocorreram nos anos de 2012 e 2016.
O procurador da República
Érico Gomes Souza, membro do núcleo de meio ambiente do MPF em Alagoas, atua em
procedimentos que apuram a situação de 16 barragens construídas pelo Dnocs e
ficou muito preocupado com o que viu. “Além da total ausência de documentação
sobre a segurança desta e das demais barragens, aqui vimos um exemplo do que se
repete em todos os demais barramentos construídos pelo Dnocs”.
“Constatamos que a estrutura
da represa, do vertedouro e até da água está abandonada pelo empreendedor e
tomaremos providências para que a União invista na manutenção e recuperação
dessas estruturas que são importantíssimas para a sobrevivência da população do
semiárido alagoano, principalmente de Jaramataia”, destacou o membro do MPF em
Alagoas.
Érico Gomes ressaltou ainda
que os profissionais da equipe 12 da FPI têm sido parceiros importantes nessa
atuação. “O olhar atento dos profissionais da Semarh, do IMA e do Crea
evidenciou a situação de risco que a população do entorno vive, seja na
possibilidade de uma grande enchente, pois o vertedouro também apresenta
rachaduras aparentes, está muito próximo aos moradores e não passa por
manutenção, como também o próprio paredão da represa, que apresenta sinais de
avarias e cuja situação pode ser ainda pior, por baixo de todo a mata que toma
a encosta do barramento”.
No relatório final da equipe
de Segurança de Barragem, que será entregue até o final da FPI, em 3 de maio,
todos os apontamentos técnicos serão destacados e as recomendações enunciadas.
Açude Jaramataia – esperança
e insegurança
Construído na década de 60,
o maior açude do sertão alagoano beneficia diretamente cerca de 400 famílias,
sendo centenas de pescadores que vivem diretamente da pesca. No entanto, seu
maior objetivo é minimizar os efeitos da seca extrema. Caso venha a ocorrer, o
reservatório do açude Jaramataia poderia beneficiar famílias que vivem além de
seu entorno, se estivesse sendo monitorado e cuidado adequadamente.
O Açude Jaramataia banha o
município com um volume de água impressionante, são mais de 19 milhões de
metros cúbicos. O maior açude alagoano começou a ser construído em 1962, sendo
entregue à população em 1967. Ao longo dos anos, o reservatório passou a ser
utilizado também pelos moradores como fonte de renda a partir do
desenvolvimento da criação de gado, da irrigação e, principalmente, da criação
de peixes, originando uma colônia de pescadores chamada São Pedro Z-29.
O açude de Jaramataia é o
maior das 22 obras realizadas pelo Dnocs no estado de Alagoas. Esse
reservatório atende até o povoado São Pedro II. É ali onde estão construídos os
sangradouros (vertedouro) e o barramento que represa os milhões de litros
d’água. O açude começa na sede municipal de Jaramataia e vai até o povoado São
Pedro, aproximadamente 5 Km.
Atualmente, nas águas do
açude, os moradores do povoado São Pedro conseguem pescar espécies como a
corvina, a piaba, a xira, o piau e a tilápia.
*Com informações do Portal
de Notícias do Dnocs
Inquérito civil nº 1.11.001.000404/2021-97
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