Os dois foram presos em
casa, em um condomínio de luxo no município de Marechal Deodoro, cerca de 24
horas depois de desembarcarem em Maceió vindos de Dubai.
Em silêncio. Foi assim que o
delegado Lucimério Campos, que preside o inquérito que investiga o envolvimento
de influenciadores alagoanos na promoção do "Jogo do Tigrinho",
plataforma digital que oferta jogo de azar, resumiu a postura do casal Paulinha
e Ygor Ferreira diante das autoridades durante interrogatório na manhã desta
terça-feira (25). Os dois foram presos em casa, em um condomínio de luxo no
município de Marechal Deodoro, cerca de 24 horas depois de desembarcarem em
Maceió vindos de Dubai.
Os dois influenciadores são
conhecidos na internet pelas postagens sobre uma vida luxuosa e sobre as ostentações
de carros importados, adquiridos, segundo eles, com as quantias ganhas através
do Jogo do Tigrinho. O estilo de vida chamou atenção da polícia, que colocou o
casal na mira da investigação da operação "Game Over", que apura
movimentações suspeitas de promoção do jogo de azar.
"Eles usaram o direito
constitucional ao silêncio, e não se manifestaram sobre os fatos. O cumprimento
do mandado se deu de forma tranquila. Eles não esboçaram nenhum tipo de reação.
Foram trazidos da residência deles para cá [delegacia]. Eles tinham chegado no
estado de Alagoas na noite do dia 23. Logo a polícia tomou conhecimento disso,
e nos organizamos para efetuarmos os mandados de prisão", iniciou o
delegado em coletiva de imprensa.
"A prisão se deu porque
no dia do cumprimento da busca, em relação a eles, no dia 14 de junho,
percebemos indícios de que eles poderiam ter informações sobre a deflagração da
operação. Não houve indicativos sobre os outros alvos, já eles deixaram a casa
abandonada às pressas, compraram as passagens aéreas para Dubai no dia 13, ou
seja, um dia antes da operação. Isso é objeto de investigação desde o dia que
nós percebemos. Tão logo representei pela prisão deles, e no dia 15, a 17ª Vara
Criminal concordou com os argumentos e decretou. Então todo o período que eles
estavam fora do país, já estavam com a prisão preventiva decretada, e nós
estávamos aguardando o retorno para que o mandado fosse cumprido. A prisão é
preventiva porque os indicativos de que eles estavam se ocultando à aplicação
da lei penal são requisitos para a preventiva", continuou.
Como já citado acima, Campos
afirmou que houve indícios de que o casal soube da operação e se organizou para
deixar o país antes de a polícia bater na porta dele. "A passagem foi
emitida na data em cima da busca e a casa estava com aspecto de abandono às
pressas. Não tinha nada de valor dentro da casa, nenhum dos veículos estava na
garagem, e a gente vinha acompanhando, sabia que eles estavam lá. Ou seja,
tinham veículos com uma pessoa, outros com outra, e dois veículos deixaram no
aeroporto porque tinham que se locomover até lá. Fora outras informações que
não podemos revelar aqui. [...] A volta dos dois tinha ficado para o dia 28,
mas com toda repercussão do caso, eles voltaram para Maceió antes do tempo".
O delegado destacou que o
casal vai ser submetido a uma audiência de custódia, quando a Justiça vai
decidir se mantém a prisão ou libera os influenciadores. Paulinha e Ygor
Ferreira podem responder por crime de estelionato, contravenção penal de jogo
de azar e organização criminosa. "Eu estou convencido que há o crime de
estelionato comprovado em relação a eles, e a outros influenciadores, também de
contravenção penal de jogo de azar e organização criminosa".
Paulinha e Ygor foram
direcionados ao Instituto Médico Legal para exames de corpo de delito. Se a
Justiça entender que eles devem permanecer presos, serão encaminhados ao
sistema prisional alagoana ainda nesta terça (15).
Lucimério Campos destacou
que alguns influenciadores já procuraram a polícia para ajudar nas
investigações, e fazer acordo de delação premiada, quando há colaboração com o
inquérito, ou seja, o acusado abre mão do direito ao silêncio, e em troca,
recebe uma vantagem. Este benefício pode variar de acordo com o grau da
colaboração, quanto mais informações o delator prestar.
O delegado afirmou que a
primeira fase da operação Game Over está perto de ser concluída e algumas
pessoas ainda serão ouvidas.
"Nós vamos concluir a
investigação sobre a primeira fase. Temos pessoas a serem ouvidas, estamos
produzindo algumas provas. Mas nada que mude a convicção da polícia, e
inclusive que de certo modo até enfraqueça todo o arcabouço de provas que
reunimos em nove meses. Na verdade, a postura dos próprios investigados já é no
sentido de que não há como negar o que foi produzido, e a gente acredita que
sejamos até procurados para colaboração premiada, como temos sido
recentemente", disse.
O delegado comentou sobre o
suposto vazamento de informações que motivou a viagem do casal para fora do
país. Ele também contestou a declaração da defesa do casal, que argumentou que
Paulinha e Ygor fizeram uma viagem a trabalho para Dubai às vésperas da
operação.
"As passagens foram
compradas às vésperas. A gente não acredita que tenha sido algo que eles
estavam organizados para viajar, porque ninguém compra uma passagem aérea,
principalmente para um país estrangeiro, que é mais caro, nas vésperas. Se eles
souberam antes, a operação vazou, porque só quem tem conhecimento é a polícia e
os alvos não têm, porque pode frustrar toda a diligência".
Provas suficientes
Lucimério Campos também
destacou que a polícia já recolheu provas suficientes durante nove meses de
investigação. O delegado afirmou que uma das maneiras do envolvimento dos
influencers na conduta ilegal foi o uso da conta demo para iludir os
seguidores.
"O fato de as contas
demo já é suficiente de que ali havia uma conduta ilegal, em você publicar na
rede social algo que você não está ganhando, e levar as pessoas a jogarem em um
link diferente, pensando que iam ganhar e que iam ostentar toda aquela riqueza
que eles ostentavam em rede social".
Novas vítimas
A polícia confirmou que
ainda recebe denúncias de vítimas do Jogo do Tigrinho. Em um dos casos, a
pessoa afirmou que teve o prejuízo de R$ 200 mil.
"Estamos recebendo mais
vítimas aqui, e a polícia está de portas abertas. E orientamos as pessoas que
se sentirem lesadas e tiverem como comprovar o pix dos jogos, que faça o
boletim de ocorrência, seja online ou na delegacia mais próxima. Estamos
recebendo aqui e já ouvimos algumas vítimas, com prejuízos de cifras altíssimas,
como um caso de R$ 200 mil de prejuízo de uma das últimas vítimas que
ouvimos".
Outras pessoas vão ser
presas nesta fase da operação?
Por fim, o delegado
ressaltou que não há indicativos, até o momento, de novos pedidos de prisão. O
caso dos mandados contra Paulinha e Ygor foi específico, devido à suspeita de
informações privilegiadas e fuga às pressas.
"Não é objeto da
investigação mais pedir prisão. Isso se deu por um comportamento deles [do
casal de influenciadores], foi específico, os outros não. Por conta de que eles
tinham informação privilegiada e deixaram o país de forma inesperada".
Por: tnh1
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